pela costa sul, de frente para África { Sicília }









adoro viajar. tenho vontade de sair pelo mundo fora, só com uma mochila na mão, um casaco, uma ou outra coisa mais indispensável, um caderno, uma máquina fotográfica.
não sei se todas as 6as feiras, mas quero deixar-vos aqui alguns dos meus cadernos de viagem. não são guias, não sugerem rotas. são sensações, visões, cheiros, cores de sítios por onde fui passando. pelo mundo e por cá.


|fotos: Carla Martins|
Sicília: Selinunte e Scala dei Turchi
 Scala dei Turchi, Sicilia



seja qual for a razão pela qual um sítio nos chama - o acto de fantasiar sobre o local, as paisagens, os costumes, as pessoas - leva-nos (pelo menos eu sinto-o dessa forma) a uma espécie de sensação de flutuar. pairar sobre os pensamentos, sair do quotidiano - do habitual e imaginar. 
esta sensação acompanhou-me durante alguns anos. desde o momento em que vi o azul intenso do Mar Mediterrâneo, a partir duma ponta do Norte de África. 
fiquei fascinada e disse para mim própria: quero ir ali. 




quando lá cheguei a essa ponta, muitos anos depois (muitos mesmo), tive sensações muito distintas. flutuei entre o não gostar e o sentir-me envolvida, próxima das coisas. 

o não gostar passou muito pela sensação de descuido ao olhar para as povoações, as estradas, as indicações nas estradas. as casas sem cor, ou cor da(e) terra, causaram-me profunda estranheza. depois de regressar, e com a distância suficiente, pensei que não seria bem descuido. foi-se construíndo com o que se tem. vive-se virado para o mar que a terra se cuida a si própria. 
desapego, talvez desapego... desapego ao que, para mim, é habitual: à imagem idílica do Mediterrâneo carregado de ombreiras de porta azuis, flores na janela e pétalas no chão; a este prolixo Mediterrâneo que já tive oportunidade de abraçar; ao que vi tantas vezes fazerem no nosso Alentejo (caiar uma casa, todos os verões, porque a casa tem de estar bonita, limpa, lavada, brilhante para receber o sol e fazer face ao rigoroso frio do inverno). 
é curiosa esta dicotomia entre o querer conhecer e o acto de conhecer; é curioso o que nos causa quando rompe com a nossa imaginação e nos transporta para o não gostar...

o sentir-me envolvida... porque ao longe, do alto duma colina (rodeada de questionáveis reconstruções de templos...), percebi que estava de frente (ou quase) para aquela ponta; a ponta onde tinha estado, tantos anos atrás. 
não ficámos muito tempo na estação arqueológica mas ficámos o tempo suficiente para conseguir contemplar aquela nesga de mar azul.

o sentir-me envolvida... pelo tão simples acto de procurar uma praia. uma praia que a mim me pareceu diferente o suficiente para valer a pena percorrer mais alguns quilómetros de carro; que já tinha visto numa cena dum filme
e scala dei turchi surgiu mesmo no final da luz do dia, quando já tinha perdido a esperança e quando o céu já estava raiado do escuro e do claro. só consegui tirar duas fotos, era impossível descer àquela hora; talvez um dia lá volte, para molhar a ponta do pé!

















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