entre salinas e terras altas {Sicília}

Trapani e Erice foram as paragens seguintes à passagem por Palermo. a ideia era fazermos os percursos entre escalas vagarosamente, para podermos saborear as vistas, fazer pequenas descobertas, deixar espaço ao acaso e, pelo meio disto tudo, tomar umas banhocas nas praias que fossemos encontrando. tinha por desejo parar em Capo San Vito mas o pouco tempo e as difíceis estradas de acesso, que passavam por uma reserva natural, somados ao sol que nos escapava por entre os dedos (do lado da ilha em que estávamos) fizeram-nos parar em Castellammare del Golfo. um recanto bonito, com uma praia quase deserta - por certo teria a ver com o final do dia, uma água quente e em maré baixa fizeram as nossas delícias. reconfortados e salgados quanto baste, retomámos a estrada com o intuito de encontrar o pôr-do-sol na alta Erice. não conseguimos encontrar a estrada de acesso e, como o sítio onde pernoitaríamos ficava no meio da reserva natural das salinas de Trapani, pensámos que seria a melhor rota. foi difícil lá chegar, andámos às voltas e mais voltas até que, na direcção certa, pedimos ajuda a umas queridas senhoras que nos ajudaram a encontrar o caminho para entrar na reserva. 
quando chegámos à pousada, o céu estava estrelado, a noite em bréu e nós estávamos no meio do nada. o único sítio para comer era o restaurante da pousada e, para lá chegar, teríamos de passar pelo meio das salinas, entre mosquitos e insectos que tais, sapos e sabe-se lá mais que outros animais. depois dum dia longo, a comida saborosa, a simpatia dos empregados e um bom copo de vinho trouxeram-nos a sensação de conforto tão desejada.

|fotos: Carla Martins|

esta foi uma das estadias mais caras desta viagem mas valeu cada tostão. foi o cabo dos trabalhos para conseguir encontrar um alojamento interessante nesta zona. em Erice era demasiado caro, em Trapani não me parecia ideal (dormir numa zona barulhenta depois duma viagem cansativa não era opção), outras coisas à volta não me inspiraram confiança e esta pousada pareceu-me interessante o suficiente, tinha bons comentários nos sites de reservas e ainda havia a mais valia de ficar no meio da reserva de salinas.

claro que a noite em bréu não nos preparou para este cenário azul que vemos nas fotos. é absolutamente deslumbrante! estamos em planície com as montanhas a rodearem-nos, o mar ao lado a deslizar calmamente, as marcas da extracção de sal aos nossos pés e aquela sensação de estarmos em casa, nesta casa que é o Mediterrâneo e que nos traz a paz do branco, o efusivo do azul, o amarelo do pó e da areia.

Trapani, que no dia anterior nos tinha parecido enfadonho e apenas uma vila piscatória, surpreendeu-nos. do lado oposto ao porto, mesmo encostada à vila, há uma praínha deliciosa. ainda hoje nos roemos por não termos tomado um banho rápido naquela água azul, verde, transparente! (suspiros, muitos) e foi este cenário que nos acompanhou, sempre ladeados pela frente marítima de Trapani e as estâncias de férias locais, até encontrarmos o teleférico que nos levaria até Erice.

sem querer, deixei-me estar de chinelos calçados e foi a pior coisa que fiz. Erice é íngreme e, pior do que isso, tem uma calçada irregular, gasta, polida, brilhante e escorregadia. tudo muito bonito mas perigosíssimo! o meu melhor conselho para quem visita Erice é que levem calçado confortável e resistente, de preferência com solas anti-derrapantes, por mais calor que tenham!

peripécias à parte, percorrer as ruas de Erice fez-me lembrar Monsaraz. houvesse um Alqueva ali ao lado e quase que ficaríamos na dúvida (risos). escapando ao centro, pejado de turistas e onde comer é uma aventura reservada a gente rica, as ruas dos vários bairros percorrem-se sem sobressaltos, estão bem cuidadas e transportam-nos para outras eras, outras vivências, outras realidades. as vistas são de cortar a respiração e, por momentos, esquecemos as praias e os campos tomam-nos os sentidos - os campos e os recortes que desenham nas paisagens. foi de facto pena não termos conseguido ver o pôr-do-sol no dia anterior!